segunda-feira, 31 de agosto de 2015

BRADESCO DESPEJA 70 FAMÍLIAS EM NOVA IGUAÇU

NOVA IGUAÇU - Na última terça-feira, a dona de casa Vanderleia da Silva, de 51 anos, levou um susto ao chegar a sua casa, na Rua Bruno de Oliveira Marzulo, no Valverde, em Nova Iguaçu. Um oficial de Justiça estava lá para despejála. Ao lado das duas filhas e dos três netos — um deles de apenas 2 meses —, ela foi obrigada a sair do imóvel onde morava uma semana após a morte do marido. A família de Vanderleia é uma das cerca de 70 que tiveram as casas leiloadas pelo Bradesco. Todas vivem o mesmo drama: financiaram os imóveis pelo antigo Banco do Estado do Rio de Janeiro (Banerj), há quase 30 anos. Quando o banco entrou em liquidação, pararam de receber o boleto mensal e não pagaram o restante das parcelas. Há pouco mais de um ano, descobriram que as residências foram a leilão sem qualquer aviso prévio. O caso foi parar na Comissão de Defesa do Consumidor (Codecon) da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), que informou a Defensoria Pública. A comissão ajuizou uma ação coletiva de consumo contra o Bradesco e os leilões foram temporariamente suspensos. — Meu marido estava resolvendo essa questão da casa. Não queremos morar de graça em lugar nenhum. Só que ele enfartou e morreu na semana passada — lamenta Vanderleia: — Estava na rua resolvendo os nossos documentos e, quando voltei, vi que estavam despejando a gente. Os homens que vieram falaram que nos levariam para a cadeia se não saíssemos logo. Elza Maria de Souza mudou-se para o Valverde, em 1987, com o marido e os filhos. No ano passado, soube que a sua casa seria leiloada com tantas outras. Aos 72 anos, ela passa os dias com medo de ser posta na rua: — Ainda não apareceu ninguém para me mandar embora. Só que ficamos o tempo todo tensos com essa possibilidade. Não temos para onde ir. Queremos quitar a dívida, mas não podemos pagar o valor todo de uma vez. O banco podia negociar com a gente. Número de famílias na mesma situação deve passar de cem. A ação coletiva que suspendeu o leilão das casas no Valverde inclui 70 famílias, mas os moradores do bairro dizem que mais de cem estão na mesma situação. Muitas pessoas, porém, não têm consciência de que precisam procurar ajuda para resolver o problema. Presidente da Comissão de Defesa do Consumidor da Alerj, o deputado Luiz Martins disse que as reclamações apareceram durante a passagem do ônibus da Codecon. — Rodamos o estado todo para encontrar casos como esses. A partir das reclamações, conseguimos fazer uma ação coletiva para suspender os leilões. Só que, para resolver a questão de vez, as pessoas precisam vir falar com a gente — frisa o deputado. Um dos relatos ouvidos foi o de Alexandre Gomes, de 40 anos. Órfão e com uma deficiência mental, ele mora com a irmã mais velha na casa financiada por seus pais nos anos 80. Agora, corre o risco de ser despejado. Segundo vizinhos, os novos compradores já foram ao local e ameaçaram o morador. Todos esses casos serão analisados por três defensores públicos. — Terminamos de cadastrar as famílias e vamos verificar se a ação será coletiva ou individual — explica a defensora do Núcleo Cível de Nova Iguaçu, Ana Flávia Lopes. O Bradesco informou que não vai comentar porque a questão está na Justiça.

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